Plugue - um desvio imaginativo
Esta é uma opinião de adulto, portanto falha em se tratando de arte feita para quem não cresceu ainda, mesmo sabendo que a criança nunca morre dentro da gente.
Fui assistir "Plugue: um desvio imaginativo" do Coletivo Errática e fiquei deliciado. Uma não história que arrebata divertindo. Uma não história que humaniza o velho mundo perverso. Uma não história que faz pensar: a imaginação é o que nos move, é processo contínuo que deve ser estimulado... o mundo dentro do mundo que estimula a criação de um novo mundo que é nosso mundo recriado. É brincadeira das boas, moderna mas com gosto daqueles bons tempos em que brincávamos na cozinha da vó: eu adorava tirar todos os talheres da gaveta e criava personagens, formas, MUNDOS.
Obrigado erráticos: Jezebel De Carli, em mais uma direção delicada, não à toa acaba de ganhar o Braskem em Cena pelo Ramal 420, espetáculo incrível da mesma trupe, Arlete com seu olhar generoso, Guega Peixotto que sou apaixonado (desculpa viu Chico), essa guria intensa, viva, poderosa, Gustavo Dienstmann engraçadíssimo, Tom Peres espirituoso, Rodrigo P. Waschburger energético, um elenco jovem, entrosado e divertido, Francisco Dos Santos Gick num roteiro/texto inspirado, afinal escrever é sempre um exercício de escolhas e neste universo múltiplo criado no "não palco" vemos o que está por trás, o pensamento criativo humano que através da arte manifesta essa nossa mania de inventar engenhocas e poesia visual...um meta teatro, o teatro dentro do teatro...a vida dentro da vida. Ainda mais neste momento de intransigência em que a censura renasce das cinzas e ameaça a liberdade que é justamente o que o projeto Plugue prega.
Tem gosto dos anos 80 aquela época em que os efeitos especiais não eram o mais importante e sim a artesania, brinquedos reais, coloridos, caseiros. Toda equipe deste trabalho parece afinada em comunicar aquilo que vemos em cena: nossa infinita possibilidade de criar/brincar/imaginar/celebrar.
Eduardo Kraemer - ator e diretor
(Foto: Francisco Gik)