Ícaro
Minha filha Thaís um dia chegou com um amigo. Eram pouco mais que adolescentes, se bem me lembro. Na apresentação, ela adiantou que ele era ator. Seus olhos azuis e sua personalidade se impunham rapidamente. Diante de sua determinação, tive certeza de que faria brilhante carreira.Tempo ao tempo, fiquei sabendo pela Thaís que, apesar de ele ter fraturado a cervical, milagrosamente fora pouco afetado pela paralisia nos membros superiores. Soube também que ele prosseguia desempenhando papéis em teatro e televisão, apesar de cadeirante. Portanto, trabalhava; era um homem produtivo.
Agora tive a prazerosa oportunidade de vê-lo em solo no palco, movendo-se com destreza em sua cadeira de rodas, protagonizando diversos papéis, masculinos e femininos, com natural e espontânea desenvoltura e muito talento, narrando as dificuldades enfrentadas pelos cadeirantes em ambientes ainda pouco preocupados com suas limitações; sem rancor, bem humorado.Os sinceros e generosos aplausos de uma plateia em pé, coroaram seu emocionante desempenho. Sentimo-nos livres ao gozar o voo livre de seu Ícaro.
Jerônimo Jardim - músico
(Foto: Fernanda Chemale)