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Ícaro


(Foto: Fernanda Chemale)

Minha filha Thaís um dia chegou com um amigo. Eram pouco mais que adolescentes, se bem me lembro. Na apresentação, ela adiantou que ele era ator. Seus olhos azuis e sua personalidade se impunham rapidamente. Diante de sua determinação, tive certeza de que faria brilhante carreira.Tempo ao tempo, fiquei sabendo pela Thaís que, apesar de ele ter fraturado a cervical, milagrosamente fora pouco afetado pela paralisia nos membros superiores. Soube também que ele prosseguia desempenhando papéis em teatro e televisão, apesar de cadeirante. Portanto, trabalhava; era um homem produtivo.

Agora tive a prazerosa oportunidade de vê-lo em solo no palco, movendo-se com destreza em sua cadeira de rodas, protagonizando diversos papéis, masculinos e femininos, com natural e espontânea desenvoltura e muito talento, narrando as dificuldades enfrentadas pelos cadeirantes em ambientes ainda pouco preocupados com suas limitações; sem rancor, bem humorado.Os sinceros e generosos aplausos de uma plateia em pé, coroaram seu emocionante desempenho. Sentimo-nos livres ao gozar o voo livre de seu Ícaro.

Jerônimo Jardim - músico

(Foto: Fernanda Chemale)


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